A interação entre autores e leitores, o debate sobre os novos caminhos e formatos para a literatura e o destaque para as mais diversas formas de expressão artística marcaram a sétima edição da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica). O evento, encerrado neste domingo (7), contou com a participação intensa de professores e estudantes da rede estadual de ensino da Bahia que atuaram como protagonistas de um dos maiores eventos literários do País.
O secretário da Educação do Estado da Bahia, Walter Pinheiro, que prestigiou o evento durante todo o sábado, dialogando com autores e professores da rede estadual, afirma que os professores têm participação decisiva na elaboração, na produção, na contação de histórias e nas práticas de estímulo à leitura. “Eu me deparei, por exemplo, com uma grande participação de professores contando a história da Chapada Diamantina, contando a história de cada território, fazendo a interação do nosso chão com os primeiros passos da criançada na leitura. Ao mesmo tempo, também, com aqueles que já cresceram um pouco mais. Esse movimento é importante, também, para pensarmos o caminho de volta”, afirmou. Para Pinheiro, a verdadeira inovação da Educação não está apenas em estruturar as escolas com novas tecnologias, mas em repensar as práticas educativas e de interação realizadas nas escolas estaduais e que foram demonstradas durante o evento. “O que a gente chama muito de escola do futuro, de escola transformadora, de escola capaz de se sintonizar com o que acontece nas ruas, isso só será possível se formos exatamente bebendo dessa fonte, vendo essas experiências e tendo a capacidade de dialogar para, cada vez mais, introduzir essas práticas nos diversos territórios”, concluiu.
Durante os quatro dias da Flica, estudantes de 18 territórios de identidade da Bahia apresentaram seus talentos, a exemplo dos estudantes do Colégio Estadual Elisabeth Chaves Veloso, localizado no bairro do cabula, em Salvador, que formam o grupo de dança Black Dance e, em suas apresentações, transmitem a mensagem sobre o combate ao racismo, ao preconceito e à violência contra as mulheres. Robert Oliveira, um dos integrantes do grupo, conta que a receptividade na Flica foi além das expectativas. “Nós chegamos aqui achando que iríamos dançar como se fôssemos mais um pequeno grupo, mas a receptividade foi tão grande. As pessoas estão acolhendo, buscando informações sobre o grupo, querendo saber onde vamos dançar. É uma surpresa porque não sabíamos que a black dance tinha tanta força. Nós estamos muito emocionados por estarmos representando uma parte dos estudantes que hoje começa a criar seus grupos inspirados em nós”, revela.
Para o professor Denisson Soares, diretor da Escola Estadual Juracy Magalhães, localizada em Salinas da Margarida, tirar os estudantes da sala de aula e levar para esse espaço de interação foi importante, não somente para despertar o olhar sobre a literatura naqueles que já se destacam compondo música e poesia, mas também para aqueles que têm talento e precisam abraçar esse mundo. “Nós trouxemos esses alunos para que eles pudessem visualizar em um ambiente macro de cultura a situação da literatura no Brasil”. Ele destaca o sucesso da iniciativa. “Eles ficaram felizes com a possibilidade de ver a palestra de uma blogueira super atual para a idade deles e muito felizes. Estão agradecidos ao Governo do Estado por essa oportunidade”, conclui lembrando que, a partir dessa iniciativa, os estudantes atuarão como monitores para que outros alunos sejam incentivados a produzir conteúdos e se tornarem, de fato, pedagogicamente melhor no processo de aprendizagem.
O casarão histórico que abriga o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) sediou a Casa Educar para Transformar, que abriu as portas para apresentar ao público presente na Flica a exposição das obras dos projetos de Artes Visuais Estudantis (AVE) e Educação Patrimonial e Artística (EPA), além de poemas e apresentações musicais de estudantes de escolas estaduais de várias regiões da Bahia. O estudante Roger Gabriel, da Escola Estadual Adelaide Souza, localizada no município de Nilo Peçanha, revela que foi à Flica em busca de inspiração. “Eu vim para a Flica no sábado porque essa é uma forma de adquirir novos conhecimentos”.
Na programação da Casa, os visitantes também puderam participar das atividades da Tenda Literária, onde aconteceram as oficinas literárias e ‘De olho no Braile’ sobre leitura braile, realizada sob a coordenação de Educação Inclusiva da Secretaria da Educação, oficinas artísticas para a confecção de máscara, debates sobre a sétima arte, por meio do ‘Papo de Cinema’ e Oficina de Turbante, realizada em parceria com a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) e o Bloco Ilê Ayê. A oficineira e integrante da diretoria do Bloco Ilê Ayê, Dete Lima, explica que a oficina trabalha a estética e do empoderamento da mulher negra. “A contribuição que estamos dando dentro desse espaço é de conhecimento da sua cultura. Quando elas se veem com um turbante na cabeça, com um tererê, elas se acham muito mais bonitas e começam a falar da cultura, perguntam sobre a nossa cultura e assim vai se passando, também, uma leitura, ressignificando a literatura e a cultura negra para os visitantes”, conta Dete, que há três anos realiza essa atividade na Flica.
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A Secretaria da Educação também reservou um espaço especial em sua programação na Flica para o estímulo à leitura entre as crianças. Na Praça Teixeira de Freitas, elas participaram da Mostra de livros e das atividades do Cantinho de Leitura e de Contação de História em um ambiente lúdico, com almofadas confortáveis e livros de literatura infantil ao alcance das mãos. Os livros, escritos por autores baianos e referenciados na realidade da Bahia, foram editados pela Secretaria da Educação e, também, distribuídos para escolas públicas de educação infantil, para contribuir com a alfabetização, na idade certa, das crianças em toda a Bahia.
Os estudantes Felipe Araújo Sena e Jhonatas Urbano, do Colégio Estadual Colégio Estadual Geovânia Nogueira Nunes, localizado no município de Itatim, revelam que esta foi uma ótima experiência para aprender mais sobre literatura e, também sobre a história da cidade de Cachoeira. “A ideia é levar o nosso conhecimento para a nossa escola e, no próximo, trazermos o nosso projeto”, afirma Jhonatas. Já para Cristiana Aparecida Nogueira, também do Colégio Estadual Geovânia Nogueira Nunes, que participa da Flica pela terceira vez, “esta é uma oportunidade muito grande de poder entrar em contato, presenciar debates sobre literatura, porque é muito importante não somente ler, mas também debater aquilo que a gente lê e pensar em como podemos trazer a literatura para a nossa realidade e para a realidade das pessoas”, conclui.
ASCOM / SEC